Portugal

 

Risco

Criptomoedas: a moeda do futuro?

O facto de atualmente podermos pedir e pagar um café através de uma aplicação móvel mostra como o mundo das transações percorreu um longo caminho desde os habituais pagamentos em numerário. A mais recente, e mais badalada, forma de pagamento a surgir numa economia cada vez mais digital é a criptomoeda.

As criptomoedas são um meio de troca puramente digital. E há quem assegure que são a moeda do futuro. Ao contrário das moedas emitidas por governos, as criptomoedas não são geridas por bancos centrais. A tecnologia que sustenta estes ativos digitais é o Blockchain, um sistema de registo virtual de movimentação de dinheiro e dados, em que as transações não podem ser modificadas ou manipuladas após registadas. Os defensores da tecnologia advogam que se trata de um sistema seguro, rápido e transparente.

O mercado de criptomoedas está em franco crescimento. Desde a criação, em 2009, da primeira (e mais conhecida) criptomoeda – a Bitcoin −, foram criadas dezenas de outras criptomoedas por todo o mundo. A Nova Zelândia tornou-se este ano no primeiro país a legalizar pagamentos de salários em criptomoeda, enquanto o Banco Popular da China diz estar próximo de anunciar a sua própria moeda digital. A intenção do Facebook criar a sua criptomoeda – denominada Libra − trouxe ainda mais atenção mediática a este assunto.

Como em todas as tecnologias emergentes, existe uma realidade inescapável: quanto maior a procura por parte do consumidor, maior a oferta de empresas e instituições. Instituições financeiras, como bancos ou empresas de cartões de pagamento, já aderiram às criptomoedas, mas em breve os investidores tradicionais também deverão juntar-se a esta revolução.

"As criptomoedas estão para ficar", assegura Ward Ching, Managing Director na Aon. "Vamos assistir ao desenvolvimento de novas criptomoedas vindas de diferentes partes do mundo. E como em todas as novas tecnologias, ter uma sólida compreensão da sua essência – tanto as suas oportunidades como os seus riscos – mantém os negócios relevantes.”

E de facto existem riscos. Como em todos os elementos da transformação digital, à medida que as criptomoedas se disseminam, crescem os riscos associados à sua criação e utilização. São quatro os grandes desafios das criptomoedas:

1 - SEGURANÇA

O sucesso das criptomoedas torna-as inevitavelmente mais aliciantes para os cibercriminosos. Apesar de ser considerada uma tecnologia segura e de estar protegida por altos níveis de rastreabilidade, as manchetes sobre cibercriminosos que atacam as criptomoedas estão-se a tornar mais comuns.

James McCue, Managing Director da Aon Financial Services Group (Estados Unidos), explica que o roubo de criptomoedas ocorre com maior frequência quando as moedas não são armazenadas com os métodos adequados: “é mais fácil para um cibercriminoso roubar criptomoedas armazenadas online do que as se estiverem offline e protegidas com protocolos de armazenamento”.

2 - VOLATILIDADE

Estes ativos digitais apresentam uma volatilidade consideravelmente maior em relação a outros investimentos tradicionais, como títulos públicos nacionais. A somar a isso, a perceção do mercado sobre a viabilidade das criptomoedas como reserva de valor pode contribuir para mudanças rápidas no seu valor. Esta volatilidade pode ser uma dor de cabeça para os investidores, mas também uma oportunidade, já que alguns especialistas consideram que, em períodos de alguma instabilidade, como a recente tensão comercial entre a China os Estados Unidos, as criptomoedas podem ser um garante de estabilidade para os investidores.

3 - CUSTOS

Embora as criptomoedas existam apenas no espaço virtual, a sua criação e uso tem um impacto bem real no mundo: um enorme consumo de energia. Sucede que a atividade computacional envolvida nos processos associados a esta tecnologia, como a resolução de problemas complexos na rede, exige uma grande quantidade de eletricidade. Segundo o Cambridge Bitcoin Consumption Index, a Bitcoin usa mais energia do que muitos países ao longe de um ano, e esta é apenas uma das muita criptomoedas do mercado. A resposta das entidades governamentais a esta questão tem diferido de país para país. Por exemplo, alguns estados canadianos ofereceram ao mercado das criptomoedas descontos na fatura da eletricidade. Em sentido contrário, as autoridades chinesas consideraram mesmo banir a proliferação de criptomoedas nos casos de uso irresponsável de recursos naturais.

4 - REGULAÇÃO

A discussão sobre a regulação das criptomoedas tem sido inconsistente. Um exemplo: nos Estados Unidos a criptomoeda é encarada como propriedade pelo Internal Revenue Service, mas como mercadoria pela Commodity Futures Trading Commission. O Banco Central Europeu anunciou este ano um plano para criar uma estrutura que monitorize o mercado das criptomoedas, com o principal objetivo de proteger o sistema financeiro e económico. Já no Reino Unido, mesmo com novas leis contra a lavagem de dinheiro, as criptomoedas não são ainda regulamentadas.

Apesar das várias abordagens na supervisão das criptomoedas, ainda está quase tudo por fazer quanto à regulação, um desafio que deverá ainda dar muito que falar nos próximos anos.

Ler mais artigos do