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Risco

Será a instabilidade política e social o grande risco para 2024?

Riscos cibernéticos e escassez de matérias-primas eram os temas que mais preocupavam os gestores portugueses em 2023, segundo o Global Risk Management Survey da AON. Conflitos mundiais potenciam estas e outras ameaças.


Embora o Global Risk Management Survey 2023 da AON não coloque diretamente a instabilidade política e social no topo dos riscos imediatos identificados pelos gestores, o atual cenário global - marcado por conflitos geopolíticos intensos e descontentamento social – promove um crescente sentimento de incerteza que dificulta o planeamento de médio e longo prazo nas empresas nacionais e internacionais

Esta tem sido, aliás, uma tendência recorrente desde o início da pandemia de Covid-19, primeiro pela instabilidade gerada pela disrupção das cadeias de abastecimento e pela consequente escassez de matérias-primas e, mais tarde, pela subida generalizada dos preços e da inflação.

A guerra na Ucrânia veio causar ainda mais instabilidade, exponenciando o impacto da crise energética e originando novos problemas de abastecimento relacionados com o mercado dos cereais. Já em 2023, o início do conflito entre Israel e Gaza gerou ainda mais incertezas, desde a instabilidade nas rotas comerciais com os ataques houtis no Mar Vermelho à potencial escalada dos preços do petróleo, caso alastre a outros países.

Já este ano, a continuidade – ou possível intensificação - dos conflitos em curso, o surgimento de novos confrontos, a tensão económica entre a União Europeia (UE) e a China, ou eleições em países como os Estados Unidos e alguns estados-membros da UE podem ser foco de instabilidade social e política, com impactos nas atividades empresariais em todo o globo.

Para as empresas, este cenário potencia a incerteza dos investimentos e a consequente insegurança operacional. Tipicamente, estes períodos de instabilidade geram elevados níveis de insegurança e instabilidade, e é neste contexto que o risco associado à falha nas cadeias de abastecimento e distribuição entrou diretamente na quarta posição para as empresas nacionais (era a terceira preocupação em 2021). Por sua vez, os ataques cibernéticos estão também a conquistar terreno. Ora, se em 2023, os gestores portugueses colocavam, pela primeira vez, as ameaças cibernéticas no topo das suas preocupações (ocupava a 6ª posição na edição de 2021 do mesmo relatório), a atual conjuntura parece constituir terreno fértil para acentuar estas ameaças para as empresas.

Aliás, segundo a mesma fonte, quer a nível global quer na Europa, os gestores partilham, em primeiro lugar, o medo dos riscos cibernéticos. Há igualmente um alinhamento de preocupação no que se refere à escassez de matérias-primas entre Portugal e os países europeus, do Médio Oriente e África.

No terceiro lugar deste ranking surgem as alterações regulatórias e legislativas que, em especial na UE, afetam as empresas nacionais. Recorde-se que as empresas dos países-membros terão de contar, já em 2024, com um conjunto de novas diretivas e normas regulatórias – como são exemplo os relatórios de responsabilidade corporativa para as grandes empresas, o regresso das regras orçamentais, novas regras para as criptomoedas ou o regulamento para a inteligência artificial – que as obrigarão a adaptar o seu negócio.

Assim, a instabilidade política e social, ao agitar o cenário global, intensifica riscos que já eram consideráveis, adicionando camadas de complexidade e diversificação à gestão empresarial e à estratégia de risco a longo prazo que em períodos voláteis é necessário garantir a continuidade do negócio.