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Risco

Pós-Covid: riscos políticos e agitação civil afetam economia

Na sequência da pandemia de Covid-19, que tanto condicionou a economia global, os Risk Maps 2021 analisam os riscos inerentes a uma sociedade em recuperação.

Embora o fim anunciado da fase mais limitativa da Covid-19 – nomeadamente com os benefícios da vacinação e o alívio das restrições internas e fronteiriças –, transmita uma onda de relativo otimismo, o pós-pandemia não é indissociável de novos riscos. Em altura de mudança, e antecipando o impacto económico, político e social, as empresas estão mais suscetíveis a problemas associados a instabilidade. Estão em causa ameaças como o aumento da violência e o descontentamento com políticas governamentais.

 

Uma das principais conclusões do relatório anual da Aon 2021 tem a ver com a subida do risco de terrorismo e de agitação civil no pós-pandemia de Covid-19. A realidade geopolítica é complexa e, apesar de se respirarem ares de mudança, também o risco político se encontra numa curva ascendente em 2021.

Entre os fatores estão a inflação nos países em desenvolvimento, as maiores disparidades no rendimento per capita entre países em desenvolvimento e países desenvolvidos – percetível na desigualdade de acesso à vacinação –, e ainda o atraso na aplicação de medidas relacionadas com a sustentabilidade e a chamada recuperação verde. No final de 2020, menos de metade dos países signatários do Acordo de Paris cumpriam as metas climáticas previstas, que visavam limitar o aumento da temperatura média do planeta para 1,5° acima dos níveis pré-industriais. Tal deve-se, sobretudo, à carga fiscal envolvida na resposta à Covid-19, que teve influência direta no combate às alterações climáticas.

Já na questão dos mercados fronteiriços, os Risk Maps evidenciam a vulnerabilidade, cada vez maior, das cadeias de abastecimento, relacionada com as alterações climáticas e fenómenos naturais extremos. Além, naturalmente, da influência negativa que a Covid-19 teve nos mercados, desde logo com o aumento da inflação e dos encargos com a dívida. Mais do que nunca, ter um serviço resiliente e ágil pode fazer a diferença na operacionalização de empresas relacionadas, por exemplo, com a distribuição alimentar.

Todos os dias, as empresas são desafiadas por novas circunstâncias e contextos, seja a nível social, económico ou político. Parte do segredo para uma melhor preparação está na capacidade de antever e criar soluções para riscos que, potencialmente, venham a impactar o normal funcionamento das empresas num futuro próximo. Dessa forma, importa averiguar, estudar e criar medidas para que riscos políticos, de terrorismo ou de violência tenham um impacto tão reduzido quanto possível.

Uma empresa informada está mais preparada para as ameaças e alterações geopolíticas que afetam diretamente o exercício da sua atividade. Como tal, e numa sociedade em mudança e com riscos identificados, importa encontrar soluções para problemas reais ou potenciais. A consultoria e gestão de riscos consultoria e gestão de riscos assume, portanto, um papel fulcral no pós-pandemia de Covid-19.

60% dos países com maior risco de agitação civil

Com base na análise da Aon, desenvolvida em conjunto com a Continuum Economics e a Dragonfly, estima-se que 60% dos países venham a estar expostos, de alguma forma, a agitação civil em 2021. Estamos, portanto, perante uma mudança significativa em relação ao ano passado, onde as restrições da pandemia de Covid-19 contribuíram para uma redução deste tipo de episódios. Em 2020, o risco de terrorismo e sabotagem aplicava-se a 45% dos países a nível global.

Não obstante, esta tendência de crescimento do risco não deve ficar por aqui e, assim sendo, deverá agravar-se ainda mais em 2022. Se, por um lado, a vacinação contra a Covid-19 e a redução das restrições transmitem uma sensação de alívio generalizado, por outro lado tal terá um impacto negativo a nível político e económico. Parte da solução poderá residir no apoio a estas comunidades mais carenciadas, tentando colmatar a dificuldade de acesso a vacinas. Têm sido, inclusivamente, feitos esforços nesse sentido, a fim de uniformizar um pouco mais o acesso global à defesa contra a Covid-19.

Tudo se transformou durante a pandemia e, se áreas como a tecnologia tiveram avanços positivos, outras sofreram embates negativos que se adivinham difíceis de ultrapassar. Por exemplo, no que à intervenção governamental diz respeito, o descontentamento generalizado face à resposta dos governos à Covid-19 – e às consequências decorrentes na economia familiar e, sobretudo, nas desigualdades económicas – vai continuar a ter peso na sociedade. Mais protestos, maior revolta e um mal-estar geral são alguns dos sintomas a ter em conta a curto-médio prazo.

Por sua vez, questões recentes como o conflito Israel-Palestina ou as sanções para o Irão têm a capacidade de influenciar sobremaneira a realidade geopolítica regional, mas também global. Além disso, a emergência de forças terroristas no Médio-Oriente representa igualmente uma potencial ameaça.

Portugal entre os países com menor risco

No relatório da Aon, Portugal destaca-se entre os países analisados com risco mais baixo de terrorismo e agitação civil. No mesmo grupo encontram-se ainda países como o Dinamarca, a Finlândia, a Irlanda, a Islândia, o Luxemburgo, a Noruega e a Nova Zelândia. Com o risco a ser mais elevado em países em desenvolvimento, na sequência dos motivos elencados anteriormente, figuram entre os casos mais severos sobretudo países do continente africano.

No que diz respeito ao risco político, também em crescimento, há uma subida considerável, mais uma vez, nos países mais pobres. No estudo da Aon, há sete países em destaque pela negativa, com o risco político a agravar-se desde 2020, sendo de mencionar o caso do Quirguistão, que passou a “muito elevado”, bem como o Gana, Macedónia do Norte, Montenegro e República Dominicana, que estão agora em risco “elevado”.