Portugal

 

risco

Riscos Climáticos: a urgência da proteção

A crescente vulnerabilidade das comunidades face aos riscos climáticos exige medidas urgentes e eficazes para fortalecer a proteção e aumentar a resiliência.

380 mil milhões de dólares

Este é o valor total das perdas económicas com as catástrofes naturais, em 2023, assinalado no relatório da Aon 2024 Climate and Catastrophe Insight, que também dá conta do défice profundo na proteção das comunidades face aos riscos climáticos. No ano passado, o fosso entre as perdas económicas e o que estava, efetivamente, assegurado foi de 69%, ou seja, 262 mil milhões de euros, num indicador claro de que é imperativo evoluir a gestão de riscos relacionados com a natureza, de forma a oferecer níveis de proteção mais completos e eficientes.

Perante a realidade climática, esta evolução é crítica e urgente. 2023 foi, de acordo com os dados, o ano mais quente de que há registo. As alterações climáticas geraram fenómenos meteorológicos e climáticos extremos em todas as regiões do mundo, dos intensos incêndios florestais às cheias, tal como sublinhado pelo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Não existem dúvidas: por cada grau de aumento das temperaturas, aumentam igualmente as perdas decorrentes das alterações climáticas.

2024 Climate and Catastrophe Insight

Com quase 400 desastres naturais em 2023 e o maior número de eventos registados com perdas seguradas no valor de milhares de milhões de dólares, os exemplos são claros. Um quarto da população global está exposta a riscos de cheias, e o incêndio florestal de Lahaina (Havai), nos Estados Unidos, foi o mais mortífero em mais de um século de registos. Nova Zelândia, Itália, Grécia, Eslovénia e Croácia registaram recordes nos custos com eventos de seguros relacionados com o clima.

 

Em 2024, continuamos a assistir às consequências. Em Portugal, bastou uma semana de intensos incêndios florestais, para que 2024 se tornasse o pior em área ardida, desde 2017, de acordo com o Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais. Aqui ao lado, em Espanha, a depressão DANA provocou uma tragédia na região de Valência, com mais de 200 mortes a lamentar. O nível de perdas económicas provocadas pela DANA ainda não está fechado, mas o Consórcio de Compensação de Seguros já recebeu mais de 45 mil pedidos de indemnização.

Pessoas, comunidades, infraestruturas e organizações estão vulneráveis a riscos físicos crescentes devido a eventos extremos, cada vez mais frequentes. Mas não só: há ainda que antecipar e gerir outro tipo de riscos, resultantes das alterações climáticas, incluindo os riscos associados a uma necessária transição para uma economia neutra em carbono: riscos económicos, financeiros, tecnológicos e regulatórios. Dependendo da localização, dimensão e setor das organizações, esses riscos apresentam desafios de dimensões muito variáveis.

O fosso de proteção em matéria climática permanece significativo, como demonstram os dados. No entanto, mesmo num quadro de elevada incerteza, surgem oportunidades de respostas inovadoras, capazes de aumentar a capacitação e a resiliência das organizações. E o setor segurador está, sem dúvida, na fila da frente, em termos de conhecimento e capacitação, para evoluir a gestão global dos riscos climáticos e estreitar o gap na proteção climática.

Enquanto especialista em avaliação de riscos, o papel do setor vai além da simples transferência de risco das organizações – protegendo-as contra eventos extremos e financiando a recuperação pós-evento. Papel este que ganha preponderância em contextos de elevada incerteza e de riscos emergentes, onde o know-how e a experiência no setor permitem consolidar modelos e ferramentas inovadoras para avaliar, quantificar e mitigar os riscos associados ao clima, assim como criar soluções inovadoras de produtos e serviços associadas à gestão de riscos climáticos. Isso ajuda organizações, governos e entidades financiadoras a compreender melhor as suas vulnerabilidades e a reduzir o fosso de proteção atualmente existente.

Aplicar estes conhecimentos em gestão de risco permite acelerar respostas climáticas globais, contribuindo, por exemplo, para desbloquear o investimento de impacto em projetos críticos relacionados com a natureza e compensações de carbono. Melhores dados e metodologias de monitorização, comunicação e verificação (MRV) proporcionam uma base mais robusta para integrar ativos naturais em modelos de risco climático, desenvolver soluções de proteção mais eficientes e reforçar a confiança necessária para o financiamento neste tipo de projetos.

Em paralelo, através de abordagens multissetoriais, este know-how favorece a transferência de conhecimento para estratégias integradas de gestão de risco. Uma sociedade resiliente e mais protegida exige esforços conjuntos, baseados em dados e modelos avançados de risco.



Subscreva o Observatório de Risco e Pessoas aqui