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Saúde mental no trabalho: um elefante na sala?
Falar abertamente sobre este tema é urgente. Para construir culturas organizacionais saudáveis, é preciso abordar os desafios emocionais e psicológicos dos colaboradores.
Nas últimas décadas, a crescente consciencialização sobre a importância da saúde mental tem impulsionado uma mudança significativa na forma como esta é encarada. Contudo, em muitos cenários, é ainda tema tabu.
No contexto organizacional, os estudos apontam que os problemas de saúde mental entre colaboradores afetam a produtividade, a retenção de talento e o desempenho geral das empresas. De acordo com o Libro Blanco de Salud Mental y Emocional 2023 [1] problemas de saúde mental como ansiedade, depressão e burnout tornaram-se comuns nas empresas, levando ao absentismo laboral e/ou ao presentismo.
Esta é uma realidade desafiante para as empresas e para os colaboradores. O Global Wellbeing Survey 2022-2023 , da Aon, revelou que 41% dos colaboradores encaram a saúde mental como uma das suas principais preocupações. Este facto evidencia a urgência em criar estratégias eficazes que valorizem o bem-estar no trabalho e a necessidade de priorizar a saúde mental no ambiente corporativo. Em resposta a estes desafios, as empresas começam a apostar em programas de bem-estar.
Revelou ainda que 71% das empresas que priorizam o bem-estar dos colaboradores registam uma redução significativa no risco de burnout, enquanto 63% referiram considerarem o bem-estar uma prioridade desde 2020. Esta transformação reflete uma mudança de paradigma: o bem-estar deixou de ser visto apenas como um fator associado à qualidade de vida, para se tornar um pilar estratégico de retenção de talento e construção de uma cultura organizacional sustentável.
No contexto europeu, Portugal é um dos países com maior prevalência de burnout [2], e com índices elevados de depressão e de ansiedade. Estes dados reforçam a importância de práticas organizacionais que promovam o bem-estar mental e priorizem a prevenção de problemas de saúde associados ao stress.
Entre as recomendações, destacam-se iniciativas corporativas que promovam o bem-estar dos colaboradores, como programas de apoio psicológico, políticas de flexibilidade laboral, entre outras. Por outro lado, o relatório da Aon verificou que os colaboradores que se sentem apoiados têm uma probabilidade 50% maior de permanecerem na empresa em que trabalham e registam níveis mais baixos de exaustão emocional.
Numa era de competitividade crescente, as empresas que cultivam ambientes psicologicamente saudáveis conseguem atrair mais talento e retê-lo, além de registarem maiores níveis de produtividade. Para além dos benefícios sociais, o foco na saúde mental traduz-se em ganhos económicos, como a redução do absentismo laboral e da rotatividade dos colaboradores, fundamentais para o sucesso sustentável.
“A saúde mental ainda é vista, muitas vezes, como "um elefante na sala": um problema óbvio e grave, mas ignorado. No entanto, ao integrarem a saúde mental na estratégia de negócio, as empresas não só atraem e retêm talento, como asseguram uma base sólida para crescer de forma sustentável”
Nuno Abreu
Executive Director – Human Capital, Aon Portugal
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[1] Desenvolvido pela Associação Espanhola de Diretores de RH (AEDRH), em colaboração com diversas entidades entre as quais a Aon.
[2] Portugal - Perfil de Saúde do País - 2023, da Organização Europeia de Cooperação Económica