Risco
Risco Político: Proteger as Organizações em Tempos de Incerteza
As tensões geopolíticas estão a provocar elevada incerteza global, o que traz riscos políticos acrescidos para as empresas. Como gerir e mitigar as perdas?
Fatores geopolíticos como os conflitos armados na Europa e Médio Oriente ou as perspetivas de uma pesada guerra tarifária no horizonte entre blocos económicos – alavancadas pela agenda política de pressão de tarifas do presidente norte-americano Donald Trump – criam incerteza nas relações entre países, na estabilidade de certas regiões e nas cadeias globais de abastecimento.
Para as empresas, sobretudo as que têm uma presença multinacional, esta incerteza crescente implica riscos políticos multidimensionais. Acaba por ser, no entanto, um “sinal dos tempos”, pelo menos no que diz respeito à perspetiva das próprias empresas. No mais recente relatório Global Risk Management Survey, conduzido pela Aon, os inquiridos referiram sentir que fazer negócios se tornou ainda mais volátil e incerto.
Será esta tomada de consciência dos riscos políticos um passo para maiores níveis de antecipação e gestão de riscos? Empresas mais preparadas são mais resilientes em tempos de incerteza.
Segundo o relatório da Aon, à medida que os riscos convergem, as empresas precisam de respostas mais focadas. Existe uma exigência crescente numa maior transparência na monitorização dos riscos e de oportunidades relacionados com o impacto que poderá ter no mercado global. Os líderes precisam de estar preparados com informações para gerir riscos e demonstrar progresso, além de antecipar cenários futuros.
Recalibrar a rota de investimentos
Em paralelo ao reforço de investimento na gestão de riscos, os eventos geopolíticos implicam outras decisões operacionais. As empresas podem ter de reconsiderar os seus investimentos em geografias específicas, realocando estruturas e ativos para outras regiões de menor instabilidade. Esta estratégia permite minimizar a exposição das empresas a regiões mais voláteis, numa procura por mercados e cadeias de abastecimento mais seguras.
A gigante Apple foi uma das empresas para a qual o risco político se tornou catalisador de mudança. A cadeia de abastecimento da tecnológica norte-americana estava muito dependente do mercado chinês, no que diz respeito ao fabrico e montagem de equipamentos. Com a guerra tarifária EUA-China na primeira presidência Trump, a Apple resolveu agir e diversificar. Assim, a empresa tem explorado outros mercados, como a Índia e o Vietname, para mitigar os riscos.
Também a Panasonic Energy, cujas baterias para carros elétricos têm por base matérias-primas importadas, tem elevada dependência do mercado chinês. Perante as pressões tarifárias deste segundo mandato de Donald Trump, a Panasonic Energy está a reforçar a capacidade de produção nos Estados Unidos e planeia começar a trabalhar mais com fornecedores locais. Outro exemplo foi a deslocação de muitas empresas multinacionais da Rússia e Ucrânia quando a guerra na região teve início.
Mitigar, transferir e gerir
O leque deriscos políticos é extenso, abarcando riscos físicos e financeiros, desde os custos de produção e logística até questões como expropriação, rescisão unilateral de contratos, atos de violência contra ativos, alterações regulamentares ou revogação de direitos, entre tantos outros.
Na gestão de alguns destes riscos, é possível mitigar e transferir algum deste ónus para o mercado segurador. É o caso, por exemplo, de incumprimentos de contrato ou privação de operações devido a uma ação governamental. Mas as empresas podem complementar a sua gestão de riscos com outras ações estratégias. A diversificação das cadeias de abastecimento e mercados é um caminho, assim como a criação de planos de contingência, contratos flexíveis e lobbying, para uma maior resiliência.
Fundamental é também monitorizar e avaliar continuamente o ambiente político e económico, para uma análise e predição do risco político. Numa era de incerteza geopolítica global, ferramentas de predição e inteligência podem ser fortes aliados das empresas, mitigando vulnerabilidades.